sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Pioneiros da Padronização Metropolitana: Belo Horizonte

https://omensageiro77.wordpress.com/2015/08/01/do-metrobel-ao-move-e-o-troleibus-quase-voltou-b-h-cidade-modelo-do-transporte-brasileiro/
Origem da imagem: internet .
Local:
Belo Horizonte-MG.
Data:
Década de 80.
Viação:
???
Carroceria:
Caio Gabriela.
Motor:
Mercedes-Benz.
Observações:
Note a estrela da Mercedes tri-color, detalhe que se repetia em BH e outras cidades a época.

Belo Horizonte, anos 80. Gabriela cumpre linha inter-municipal pra Santa Luzia – alias só pode mesmo fazer essa linha, pois ela vem escrita na lateral (já falamos mais disso).

Pintado na padronização Metrobel, que valia tanto pro sistema municipal quanto metropolitano.

3 capitais brasileiras foram pioneiras em padronizar a pintura dos ônibus metropolitanos: Florianópolis-SC, Belo Horizonte-MG e Goiânia-GO. Elas, na virada dos anos 70 pros 80 (ou logo no comecinho dos 80) quando padronizaram as linhas municipais, incluíram as linhas metropolitanas no mesmo pacote.

Curitiba e São Paulo, entre outras, padronizaram os ônibus municipais na mesma época, entre o fim dos anos 70 e começo dos 80. Ainda assim, a capital paranaense só foi uniformizar a pintura dos ônibus metropolitanos uma década e meia mais tarde, no começo dos anos 90. Durante todo os anos 80 vigorou pintura livre. 
A capital paulista demorou mais ainda, as viações metropolitanas só tiveram que uniformizar suas pinturas (no padrão azul da EMTU) perto da virada do milênio.

Algumas capitais (o Rio de Janeiro, entre muitas outras) até hoje não padronizaram a pintura nas linhas metropolitanas.
……….

Foquemos em B.H. que é nosso tópico hoje. A padronização Metrobel foi revolucionária, e atingiu uma façanha que permanece inédita até hoje em nível global:

A pintura indicava tanto a categoria da linha quanto a região da cidade que ela servia. Explico. Há 3 formas de padronizar a pintura dos ônibus de uma cidade.
  1. A primeira é a mais simples de todas, simplesmente toda frota fica igual, todas as linhas, todas as categorias (no máximo há variações pros articulados, tróleibus, a gás natural, caso esses modais existam obviamente).
    Nas outras duas adotam-se modelos opostos, e portanto mutuamente excludentes (exceto em Belô dos anos 80 e 90, como já veremos).
  2. Pintam os ônibus conforme a categoria de linha que ele serve.
    Aqui em Curitiba, como exemplo clássico, foi feito assim: os Expressos são vermelhos (já tentaram fazer eles laranjas, cinzas e azuis, mas sempre voltam ao vermelho); Inter-Bairros verdes; os Convencionais (e até o fim dos anos 80 também Alimentadores) amarelos; da virada dos anos 90 em diante os Alimentadores se tornaram laranjas; Circular Centro branco.
    Além de Curitiba, diversas cidades adotam o mesmo modelo. Entre outras: Recife-PE, Belo Horizonte atualmente, Ponta Grossa-PR, e mesmo Los Angeles-EUA - no passado, Fortaleza-CE, Londrina-PR, Blumenau e Joinville-SC também.
  3. Pintam os ônibus conforme a parte da cidade que eles vão.
    Exemplos são São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília-DF, Porto Alegre-RS, Salvador-BA, Belém-PA, e Santiago do Chile.
Pois bem. Como dito, no sistema MetroBel (o nome é exatamente porque incluía a região metropolitana) não era preciso escolher, o buso trazia tanto a região quanto a categoria da linha.
Como isso? Simples, o veículo era pintado quase em unicolor em um tom, que indicava a categoria:
  • Vermelho – Expresso e Semi-Expresso;
  • Azul – Diametral;
  • Amarelo – Circular;
Os Circulares não, mas os busos vermelhos e azuis ao mesmo tempo traziam duas faixinhas diagonais, na frente, laterais e traseira. E essas faixinhas indicavam eixo básico por qual a linha ia, pois cada cor representava uma avenida. Os dois primeiros algarismos do número do ônibus tinham a mesma função.

0, cinza: Av. Afonso Pena, Av. Cristovão Colombo, Av. N. Sra. do Carmo
1, amarelo: Av. Amazonas e Via Expressa Leste-Oeste
2, lilás: Av. Pres. Antônio Carlos e Av. D. Pedro I
3, rosa: Av. D. Pedro II e Av. Pres. Carlos Luz
4, marrom: Rua Pe. Eustáquio e Av. Abílio Machado
5, bege: Av. Cristiano Machado e Rua Jacuí
6, ocre: Rua Platina
7, verde: Rua Niquelina
8, laranja: Av. Silviano Brandão e Av. dos Andradas
9, azul-claro: Av. Prudente de Morais, e Av. Raja Gabáglia

Portanto quem batia o olho já sabia o grosso do itinerário. Nesse caso, 5510 não é o número do 'carro', mas da linha. Portanto ele ia pela Av. Cristiano Machado e Rua Jacuí. E não podia fazer outra linha fora essa, como já dito e está óbvio. O nº do 'carro' é '6542', que vem pequenininho sob o para-brisas.
…….

Nos anos 90 acabou a padronização Metrobel. Primeiro, a região metropolitana continua tendo pintura padronizada mas agora numa decoração diferente do municipal.

Segundo, os municipais continuaram com o padrão Metrobel mais um tempo, mas depois também fizeram alterações. A partir daí os busos só são padronizados pela categoria, as faixinhas indicando o itinerário se foram.

Nessa 2ª padronização municipal a lataria continuou pintada toda numa cor só, mas incluíram flechas num outro tom (similar a pintura que então vigorava em Fortaleza). Mantiveram-se as cores azul, vermelho e amarelo, e surgiu a verde. No caso do vermelho e azul, a flecha era mais clara, e no amarelo e verde mais escura que o fundo predominante.

E na 3ª padronização o veículo ainda está em uma cor só, mas agora em dois tons. As flechas desapareceram, no lugar delas abaixo, mais escuro, vem um desenho estilizado dos pontos turísticos da cidade. Ficam o verde, amarelo e azul, o vermelho deixa de existir.

Agora surgiu a 4ª padronização, em que os busos não são mais de uma cor só. Se tornaram azuis e cinzas, pra cidade inteira, todas as linhas, exceto o Move.
……..

Voltando ao Gabriela Metrobel retratado na foto, mais duas características chamam a atenção:
  • A linha vem pintada na lataria, portanto o 'carro' é fixo nela, não tem como fazer outra. Isso valia pra todos os ônibus de BH, de todos os modelos, e acontecia igualmente em toda América Hispânica. No Brasil, entre as capitais só BH e Belém-PA.
    Em todos os casos, na nossa pátria e no exterior, até a modernização do letreiro eletrônico dizimar essa peculiaridade. Onde ele já foi implantado (nem sempre é o caso em outras nações) os busos passam a ficar padronizados e não mais personalizados.
    (No caso de B. Horizonte colocaram primeiro um encaixe, uma caixa de itinerário, pra poderem mudar a linha pintada na lateral colocando outra placa por cima; e mais recentemente um pequeno letreiro eletrônico na lataria. Assim a linha ainda vem escrita nos lados do veículo, mas pode ser alterada em caso de necessidade.)
  • O teto é inclinado, e o letreiro é pequeno e vem dentro do para-brisas, e não acima dele. Ou seja, lembra um buso rodoviário nesses detalhes.
    Ao contrário da linha pintada na lataria que acontecia em todos os ônibus de qualquer marca, o letreiro e teto de ônibus 'de viagem' ocorria principalmente nos Gabrielas (há na internet imagem de um São Remo que também era assim. Mas nos modelos posteriores - Amélia, Torino, etc - não acontecia). É um traço típico de BH da época.
    Vi fotos de Gabrielas em Campinas-SP iguais. Fora essas duas cidades, não conheço nenhum caso nas capitais e maiores cidades do interior nos anos 80 com essa configuração 'rodoviária', de teto inclinado e letreiro menor dentro do vidro (nos anos 90 alguns articulados Ciferal adotaram a mesma ideia).
    .......

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