sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Tróleibus de Santos, um Museu Vivo

ACESSE A "ENCICLOPÉDIA DO TRANSPORTE URBANO BRASILEIRO"


Autoria própria. Imagem de livre circulação, desde que os créditos sejam mantidos.
Local:
Santos-SP.
Data:
11/2015.
Viação:
Piracicabana.
Carroceria:
Mafersa (Material Ferroviário S.A.) - tróleibus.
Motor:
???.
Observações:
Fazendo o contorno da Praça Independência pra retornar a Praça Mauá pela Avenida Ana Costa.

Santos, novembro de 2015. Velho tróleibus Mafersa com mais de 2 décadas de uso ainda na ativa, talvez até 3 décadas.

O bichão é um museu vivo, porque reúne diversas características já extintas nos ônibus a dísel da cidade.

  • Pra conversa começar, é um tróleibus. Um dia, a maior cidade do Litoral Paulista teve extensa rede de ônibus elétricos, com diversas linhas pra vários bairros.
    Não mais. Todas as outras linhas foram des-eletrificadas, e hoje servidas por veículos a dísel. Somente a Linha 20 foi mantida, ela liga a Praia do Gonzaga ao Centro, se preferir mais especificamente os pontos finais são as Praças Independência e Mauá, respectivamente.
  • Veja o letreiro: “20-Circular”. Houve um tempo que imensa maioria das linhas de ônibus de Santos não tinham nome, eram conhecidas pelo número – no sistema municipal e inclusive algumas linhas metropolitanas pra São Vicente. No letreiro constava exatamente isso, “Circular”.
    Na Itália e na parte italiana da Suíça - além de outras metrópoles pelo globo - foi assim também. Vinha apenas o número, nada de nomes. No Rio de Janeiro as linhas tinham nome, mas eram igualmente conhecidas pelo número.
  • Bem, o letreiro ainda é de lona. Vinha escrito 'Circular' nos ônibus e tróleibus santistas nesse modal antigo. Agora, com o letreiro eletrônico, as pessoas ainda se referem as linhas pelo nº, mas no letreiro está grafado o itinerário, acabando com o simpático mas pouco informativo 'Circular'.
    Todas as linhas dísel – ou seja a totalidade da cidade exceto a '20' – têm letreiro eletrônico, e trazem nele o itinerário. Apenas o trol diz 'Circular' na lona.
  • A pintura também é antiga. Alguns anos atrás toda frota (dísel e elétricos igualmente) ostentou essa decoração na lataria. Nos a dísel foi substituída faz tempo. Aqui ficou, de recordação.
  • É um Mafersa, saudosa empresa de capital e tecnologia nacionais que faliu em 1995. Não conheço outros casos de Mafersas circulando agora na década de 10 (escrevo em 18) nas capitais e cidades grandes e médias do interior e litoral.
  • É um veículo absolutamente longevo, característica dos tróleibus.

Vamos reproduzir aqui alguns dados extraídos da enciclopédia Lexicar.

A Mafersa – Material Ferroviário S.A. -, como o nome indica, começou fabricando vagões de trens. Começou a fazer tróleibus em 1985.

Nesse ano a Capital Paulista inaugurou seu maior terminal de ônibus, o de Santo Amaro, na Zona Sul, e o corredor na avenida de mesmo nome que liga o bairro ao Centro. A Mafersa ganhou a concorrência no modal elétrico, e forneceu perto de 80 tróleis pra CMTC (Cia. Municipal de Transporte Coletivo).

A Mafersa tinha unidades em SP Capital, no interior paulista e em Contagem, na Grande Belo Horizonte-MG. Esse tróleibus foram produzidos em SP, cidade na qual operaram. No fim dos anos 80 e virada pros 90 a Mafersa dá um grande salto: passa a produzir ônibus a dísel, lança uma versão do tróleibus-articulado (que não pegou, não passou do modelo-piloto, alias não há articulados Mafersas nem elétricos nem a dísel) e transfere a produção de carrocerias integralmente pra unidade da Grande BH.

Os ônibus da Mafersa eram revolucionários, pois totalmente adequados ao modelo 'Padrão' ('Padron', no original) que o governo federal na época tentava disseminar nas cidades brasileiras: mais longo, alto, largo, com portas amplas e motor traseiro.

Ademais, o Mafersa também era monobloco, como os Mercedes-Benz. O que é um 'monobloco'? Geralmente nos ônibus uma fábrica produz o chassi e outra a carroceria – todos já vimos nas estradas os ônibus sem cobertura, indo exatamente receber a carroceria. Portanto são duas peças separadas, dois blocos distintos.

A Mafersa, e também a Mercedes, eram as únicas que produziam tanto chassi quanto carroceria na mesma unidade fabril. Resultando que o ônibus não tinha dois blocos separados, mas era feito por inteiro de uma vez, num único bloco – o 'monobloco'.


A Mafersa pagou o preço de seu pioneirismo. O mercado não estava preparado pra um produto mais moderno e confortável - e por isso um pouco mais caro. Quando no começo dos anos 90 o governo federal cortou o financiamento pra implantação de tróleibus e ônibus a dísel 'padrão', diversas encarroçadoras vieram a pique. A Mafersa foi uma delas. Começou a produzir tróleibus em 1985, e a dísel pouco depois. Em 1995 a firma faliu.

Tirei essa foto em 2015. Logo, na época o bichão tinha entre 30 (se produzido logo no primeiro ano) a 20 anos de uso (caso fabricado no derradeiro ano da Mafersa).

É característica dos tróleis serem longevos: na Grande São Paulo circula um Marcopolo com 3 décadas de pista.
 E São Paulo, Santos e Recife (quando a capital de Pernambuco tinha tróleis, o que não é mais o caso) contaram com ônibus elétricos dos anos 40 e 50 operando até os anos 90, e mesmo de até logo após a virada do milênio. Foram portanto 40 e mesmo 50 anos serviços ininterruptos. 
O mesmo se repete no Chile, Argentina, EUA e outros continentes.

Matérias sobre o tema:
"Deus proverá"

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