terça-feira, 16 de abril de 2019

2-Andares no Brasil: no Recife um 'filho único', o 090 da CTU


 
https://omensageiro77.wordpress.com/2019/01/22/pioneiros-da-padronizacao-metropolitana-belo-horizonte-goiania-e-florianopolis/


ACESSE A "ENCICLOPÉDIA DO TRANSPORTE URBANO BRASILEIRO"


Origem das imagens: internet - créditos mantidos.

Local:
Recife-PE.

Data:
Início de década de 1990.

Viação:
CTU (estatal municipal).
Carroceria:
Thamco Fofão (ODA – Ônibus 2-Andares).

Motor
Scania.
Observações:
Na imagem acima a garagem da CTU, ao lado do ODA aparecem outros Thamcos, esses de 1 andar porém articulados.


Recife, começo dos anos 90. ODA (Ônibus Dois Andares) cumpre a linha CDU/Várzea. Thamco “Fofão” Scania. Todos os 2-andares brasileiros dos anos 80 eram Thamco Scania, 'Fofão' sendo o apelido carinhoso do modelo.

Operando pela saudosa CTU (Cia. De Transportes Urbanos), viação estatal municipal que existiu por 43 anos, de 1957 a 2000 - nos anos 70 a C.T.U. operou até barcos, sabia dessa? Então a cidade justificava o apelido de 'Veneza Brasileira' nessa dimensão também!

Durante sua história, a CTU mudou muitas vezes de pintura, pois cada prefeito queria imprimir sua marca, e uma das formas era essa, repintando a frota de ônibus.

Por isso, quando o 2-andares chegou, em 1990, foi pintado de amarelo, a decoração existente então – vide foto ao lado.

Em 1991, entretanto, foi decretado que os ônibus da CTU deveriam ostentar sempre a cor azul, e assim eles ficaram na última década de vida da viação. Nesse tom estão todos na garagem, como comprovamos acima.

Natural, né? Como várias outras 'frotas públicas' espalhadas pelo Brasil (CMTC de SP, CTC do Rio, TCB de Brasília-DF), a CTU também se consagrou em celeste.

De volta ao tema de hoje, no andar de cima só se pode viajar sentado, mas na imagem vemos gente de pé.

Esse foi o único 2-andares do Recife. Mais, foi o único 2-andares de todo Nordeste Brasileiro – bem, o Sul e o Norte do Brasil nunca contaram com esse modal pra transporte urbano regular.

E não durou muito. Alegando altos custos de manutenção, a CTU o retirou da frota em poucos meses. Mas antes disso ele marcou época na capital de Pernambuco.

Além do Recife, houve 2-andares também em SP Capital, na vizinha Osasco (igualmente na Grande SP), e Goiânia-GO. Sempre por viações estatais, respectivamente a CTU/Recife, CMTC/SP (vermelhos como em Londres-Inglaterra), CMTO/Osasco, e Transurb/Goiânia (nesse último caso também vermelhos). Segundo alguns, houveram também 2-andares em Uberlândia-MG, mas nesse caso nunca vi fotos, não posso assegurar se é ou não verdade.
 

Em São Paulo existiram dezenas de 2-andares, 27 sendo mais exato. Em Osasco, também Grande SP como todos sabem, 4 exemplares circularam. Assim foi no Sudeste

 

No Centro-Oeste, em Goiânia foram creio que 3 ônibus 2-andares. No Nordeste, o Recife teve apenas 1, um 'filho único'. Não houve O.D.A. em transporte regular nem no Sul tampouco no Norte Brasileiros (em compensação, se serve de consolo, o Sul e o Norte são quem concentram as casas de madeira em nossa Pátria Amada).


Voltamos a ver o bichão em azul.

Vamos falar um pouco da carroceria. Havia a fabricante Ciferal (Com. & Indústria de Ferro e Alumínio), do Rio de Janeiro – alias ela funcionava no mesmo barracão que um dia sediou a saudosa F.N.M. (Fábrica Nacional de Motores), em Duque de Caxias, no Grande Rio. Nos anos 70, a Ciferal abre uma filial em São Paulo, que se chamava 'Ciferal Paulista'.
 
Na virada dos anos 70 pra 80, o antigo fundador da Ciferal assume a 'Ciferal Paulista' e a seguir a desmembra da matriz carioca. A nova fábrica passa a se chamar Condor. Só que a Condor tem vida curta, e em 1985 abre falência. 
 
O empresário Thamer Butros compra a Condor, e a renomeia 'Thamco', sendo o 'Tham' de seu nome e 'Co' de Condor. A fábrica da Thamco era em Guarulhos, na Grande São Paulo. Como falado e é notório, os primeiros 2-andares brasileiros nos anos 80 são todos Thamco.



Garagem: dos 9 busões, 8 são Thamco.

Detalhe. Nos anos 90 a Thamco também já havia ido a pique. A massa falida foi comprada pela 'Neobus'. Após alguns meses operando ainda no galpão na Grande São Paulo (Guarulhos), ela se relocou pra Caxias do Sul-RS, mesma cidade da Marcopolo. Hoje a Marcopolo é dona de 40% da Neobus. A Ciferal foi outra que também faliu, e foi comprada, adivinhe, pela Marcopolo. 


Isto posto, voltemos a falar dos 2-andares.Como sabem, esse modal começou em Londres. Onde são vermelhos, é claro. Na capital da Inglaterra houveram um bichões muito longevos, que circularam décadas e décadas ininterruptamente (digo, não sei se foi a 1ª cidade a ter ODA, certamente é ali que o modal se tornou clássico).


SP teve mais de 30 veículos desse tipo.
Uma leva de veículos produzidos nos anos 50 só saiu de operação já nesse milênio (segundo algumas fontes somente na segunda década desse milênio). Ou seja, os 2-Andares originais de Londres rodaram por 5 décadas sem sair da pista, ou quase isso – assim cumprindo na Europa o papel que os tróleibus cumprem na América, o de serem 'museus vivos'
 

Ônibus 2-andares é ideal pra linhas turísticas, quando são poucos passageiros endinheirados que estão passeando, sem horário a cumprir. Aí só vai gente sentada, reduzindo os problemas de circulação. 
 
Vou dizer com todas as letras: ônibus 2-andares não são adequados pro transporte de massas, de linhas carregadas usadas pendularmente pela classe trabalhadora. Pra essas linhas é preciso articulados, que não têm escada, aí você dinamiza o fluxo no interior do veículo: todo mundo entra pela frente e vai se dirigindo pra trás, onde há muito espaço pra se acomodar e várias opções pra sair.
 
Também na Alemanha: 2-anndares, articulado e tribus!

Pois num 2-andares a escada toma boa parte do espaço do salão interior, onde é feito o embarque/desembarque e cobrança de passagem. Ademais, a própria escada já é um gargalo de circulação, se alguém está subindo e outro vem descendo, quem sobe tem que recuar. Você imagina o cenário: dia útil, 5 e pouco da tarde
 
Centro da cidade, as filas gigantescas pra massa trabalhadora entrar nos busões e se dirigir a seus distantes subúrbios. Chega o busão 2-andares. Você vai lá pra cima, pois o vagão de baixo é minúsculo, o motorista a frente, a escada no meio e o motor atrás, quase não sobra espaço pros passageiros. 

Chega a hora de descer e você tem que ir se espremendo no corredor e na escada. Tem gente sentada nos degraus, o vagão de baixo está lotado até o limite, não cabe mais uma pessoas sequer. Você tem que ir achando um espacinho, pedindo licença, empurrando
 

Berlim/Alemanha teve ônibus 3-andares!

Já quando eu era criança cheguei a andar várias vezes no 2-andares paulistanos. Nesse caso foi curioso e lúdico, pra um menino busólogo tudo é festa, mas pra quem pega todo dia não é nada divertido.
 
Agora, por outro lado em 2015 pra ir do Centro ao Aeroporto de Santiago/Chile eu fui de 2-andares. Trata-se de uma linha diferenciada, prum público de maior poder aquisitivo. Aí sem problemas, o buso vai vazio, você sobe e desce com calma a escada, e circula no salão sem atropelar ninguém nem ser atropelado. 

 
O veredito: pra Linha Turismo 2-andares é o ideal, um atrativo em si mesmo. Mas pra transporte urbano regular, nem pensar. Hoje, o Brasil entendeu isso, felizmente.
.

Matéria completa:

Inaugurando esse modal no transporte de massas em nosso país. E eles eram exatamente na mesma cor que os de Londres, que os inspiraram.

Além da capital paulista Osasco (também na Grande SP), Goiânia-GO, Recife-PE e Uberlândia-MG contaram com esse tipo de veículo no transporte urbano. Atualmente só rodam em nosso país nas chamadas ‘Linhas-Turismo‘.

Mostro também os 2-andares na Grã-Bretanha, Europa continental e em várias ex-colônias do império britânico.

 

 

SÉRIE "2-ANDARES NO BRASIL" (com exceção da 1ª matéria, os demais são dos anos 80 e 90): 

2-ANDARES PELO MUNDO:

3 ANDARES EM BERLIM, ALEMANHA (sim, ônibus com 3 andares, 2 lances de escada! Mais um pouco e teria até elevador . . .)

 

- BONDE DE 2 ANDARES EM HONG KONG, CHINA (como sabem, colônia britânica até 1997)

 

SÉRIE SOBRE O RECIFE:

O apelido, evidente, se deve as muitas pontes e canais do Centro. Também chamada Amsterdã Sul-Americana, pelo mesmo motivo. Falo de vários aspectos sobre a cidade: o nome, a geografia, a pichação nos muros, e muitos outros.

 
("Choque Cultural": um curitibano no Recife - poucas cidades no mundo são tão diferentes quanto as capitais do PR e PE. Curitiba é fria, o Recife é quente, sangue-quente.


Confira matéria completa sobre o transporte no Recife, atualizada com centenas de fotos, o texto também foi completamente reformulado.

Outras postagens relacionadas ao tema:
 
B. Teimosa e prédios de Pina e B. Viagem
- UMA ‘BOA VIAGEM’: DE BRASÍLIA “TEIMOSA” A BRASÍLIA “FORMOSA”
 (Além de desenhos do Recife, mostro Brasília Teimosa, antiga favela próxima a Boa Viagem, que até 2003 tinha palafitas dentro do mar; agora foi urbanizada e virou um bairro normal)

- TRANSGENIA BUSÓFILA (E AUTOMOTIVA EM GERAL) Dezenas de curiosidades como essa, veículos - de todos os modais - adaptados prum uso distinto do planejado originalmente;
 
Segue a série sobre a vizinha Paraíba, que visitei em 2013. 

 TERRAS DO TRIBUS URBANO: a Paraíba, ao lado dos vizinhos Pernambuco, Rio Grande do Norte e até Sergipe, e mais São Paulo, concentram os ônibus trucados (com 3º eixo) no Brasil.
Tribus na padronização SEI/Recife.


ONDE O SOL NASCE: JOÃO PESSOA (a capital paraibana é a cidade mais oriental de toda América, portanto a que todos os dias recebe seu primeiro raio de Sol; nessa matéria falo um pouco do transporte coletivo também);

 ATÉ BAYEUX TEM "METRÔ": minha ida de trem ao subúrbio da Zona Oeste da Grande J.P. (Bayeux e Santa Rita) de trem. A tarifa é simbólica, R$ 0,50 (valor de 2013)Falamos rapidamente também do futebol na Paraíba, afinal 2013 foi justamente mais glorioso da história, quando esse estado levou seus dois maiores títulos, a série D do Nacional e a Copa do Nordeste.

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P. Seixas, J. Pessoa: ponto mais orental da América.

Contamos um pouco da história do estado, os 5 nomes que J. Pessoa já teve. No embalo mostramos 2 bandeiras anteriores paraibanas, até ela chegar a atual. Ah, é a “Cidade de Maurício” é justamente o Recife.

– JOÃO PESSOA É UMA MÃE, assim definiu o taxista (recifense de nascimento e criação) que me levou do aeroporto. Um pouco do clima, vegetação, e muitas fotos da periferia.

"Deus proverá"

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