Local: |
Salvador-BA. |
Operadora: |
CTB - Companhia de Transportes da Bahia. |
Data: |
Novembro de 2020 |
Estação Central de trens de Subúrbio no bairro Calçada, Centro de Salvador, novembro de 2020. Composição se prepara pra partir pra Estação Paripe, do outro lado da linha, perto da divisa de município. Ao fundo vemos a dura realidade dos morros de Salvador.
Esse trem operou até fevereiro de 2021, quando foi desativado pra dar lugar as obras do moderno VLT (Veículo Leve sobre Trillhos, o 'metrô leve') que irá substituí-lo. Veremos quando será efetivamente a inauguração do VLT.
Não custa enfatizar de novo, veja atrás o morro favelizado, e isso em pleno Centro da cidade, imagine como são os bairros as margens dos trilhos dali pra frente. Por isso a orla da Baía de Todos os Santos é chamada de ‘Subúrbio Ferroviário‘. Assim é Salvador, irmão. Seja bem-vindo.
A cidade começou as margens da Baía de Todos os Santos. Daí o nome do estado, obviamente, antigamente a grafia era diferente, se escrevia ‘bahia’ com ‘h’ (a Grande Acapulco no México é até hoje conhecida por ‘Bahía’, pois em espanhol ainda é assim). Da linguística desse idioma-irmão ao nosso luso falamos outro dia. Aqui, o tema é Salvador.
A princípio, no início do século 16, tentaram construir a cidade na Barra, que é o ponto de encontro da Baía com o Oceano. Tanto que o forte de Santo Antônio da Barra data de 1534. Se havia um forte, é porque já haviam construções portuguesas a serem protegidas. Foi na Barra que Salvador foi oficialmente fundada, em 1549.
No entanto a região era vulnerável a ataques, tanto de estrangeiros europeus quanto dos nativos da terra. No fim do século 16 Inglaterra e Holanda intensificam suas tentativas de tomar posse das possessões portuguesas na América.
Em 1605 Portugal decide levar a sede da capital de sua colônia pra costa interna, as margens da Baía, tirando-a da costa Atlântica. Natural, uma povoação as margens de uma baía é muito mais fácil de defender de ataques de piratas que em mar aberto, por motivos óbvios.
Em 1605 (ou 1608, as fontes divergem) inicia-se o planejamento de um forte na Baía. Em 1623 Portugal inaugura o Forte de São Marcelo, também conhecido como Forte do Mar ou de Nossa Senhora do Pópulo.
Em João Pessoa-PB ocorreu o mesmo, a cidade começou ao lado do mar. Só que a povoação foi atacada. Por isso transferida pra um local de mais fácil defesa contra invasores.No caso o forte foi construído numa colina as margens do Rio Paraíba (acessível aos navios amigos, inacessível aos inimigos). Voltando a Bahia e sua capital, nos seus primeiros séculos a Costa Atlântica era um local distante, pouco povoada. Salvador se desenvolvia em volta da Baía da Todos os Santos.
Até fins do século 19 e começo do 20, a Praia da Ribeira, ali localizada, era o reduto da elite e alta burguesia da capital baiana. Até hoje vemos imponentes casarões na beira-mar da Ribeira que atestam esse passado de luxo. Porém o século 20 trouxe grande progresso material ao planeta, como todos sabem.
A chegada do automóvel e a construção e melhoria das vias públicas possibilitou que a cidade se expandisse cada vez mais rumo a costa de mar aberto. Além disso, a pirataria deixou de ser um problema como fora em tempos anteriores.
Assim, os moradores mais abastados foram deixando a orla ocidental soteropolitana, a da Baía, e se instalando na orla oriental, a Atlântica.
Com isso, as duas costas de Salvador passaram a expressar uma dicotomia cada vez mais aguda. A parte aburguesada no Oceano, a porção da baía foi se tornando cada vez mais a periferia da cidade.
Por quase 5 anos, de 2016 a 2021, esse contraste podia ser visto até no transporte: Na Costa Atlântica existe um moderno metrô, construído sobre a Avenida Paralela. Enquanto que a outra costa, a da Baía, contava até pouco tempo atrás com um trem de subúrbio que funcionava em péssimo estado.
Por isso os bairros as margens dessas praias são conhecidos em Salvador como “Subúrbio Ferroviário”. Em fevereiro de 2021 esse trem foi aposentado pra dar lugar a um moderno VLT. Aí sim!
Quando o VLT estiver pronto os bairros do ‘Subúrbio’ terão acesso a um transporte de qualidade, já disponível no Miolo e Orla com as 2 linhas de metrô.
Os primeiros vagões, fabricados na China, tem previsão de chegada ao Brasil em abril de 21. Veremos quando serão concluídas as obras dos trilhos e estações do VLT – as do metrô atrasaram bastante.
Seja como for, em algum momento dessa década de 20 que se inicia (escrevo em 21) o VLT estará em funcionamento. Oxalá, assim seja!
Porque olhe, o pessoal do ‘Subúrbio Ferroviário’ merece um transporte de qualidade. O trem suburbano que o nomeia era totalmente precário, deixava a desejar em muito.
Tive a oportunidade de andar nele num de seus últimos meses de funcionamento. Breve farei matéria específica sobre o transporte, onde relatarei tudo em detalhes. Aqui, basta dizer que a tarifa era irrisória, somente R$ 0,50. Sim, cinquenta centavos – e ainda tinha meia-passagem pra estudantes!
Era cobrado algum valor apenas pra não dizerem que era de graça. E mesmo nesse preço simbólico, que obviamente não cobre, os custos o movimento era baixíssimo. O trem era sub-utilizado, exatamente porque a qualidade dos serviços era péssima. Pra você ter uma ideia, o intervalo entre as viagens era de 40 a 45 minutos.
Só pegavam trem os mais miseráveis, aqueles que não podiam arcar com o ônibus – que custa R$ 4,20 quando escrevo (como comparação em Curitiba é 4,50, e em SP 4,40).
Então, como dito, na 2ª metade dos anos 10 o contraste entre as costas da cidade era expresso até nos modais sobre trilhos, que não poderiam ser mais distintos:
Na Orla (e também no Miolo) metrô com ar-condicionado, de domingo a domingo. Intervalo entre as viagens de cerca de 6 minutos no meio do dia (3 no pico). Estações e trens seguros, policiados.
Sim, a tarifa custa 4,20. Mas pagando com cartão dá direito a uma viagem de metrô e duas de ônibus, municipais ou metropolitanos. Se fosse somente de ônibus, o usuário já pagaria os mesmos 4,20.
Ou seja, pega um ônibus perto de casa até a estação do metrô. Dali percorre de forma rápida, segura e relativamente confortável o trecho mais longo. E ao descer na estação pega outro buso que o deixa no trabalho.
No Subúrbio Ferroviário a situação era diametralmente oposta: a única vantagem do antigo meio de transporte era o preço, praticamente gratuito. Sabe aquele ditado ‘não paga, mas também não leva’? Com o trem suburbano de Salvador era o mesmo.
Pagava-se muito pouco pela tarifa, verdade. Com uma moeda de R$ 1 você ia e voltava. Em compensação, não tinha integração com ônibus nem metrô.
Se precisasse mais uma condução pagava de novo – e a maioria precisava, difícil quem more e também trabalhe ao lado da estação, aí o trem já saía mais caro que o metrô/ônibus.
Mesmo quem usava só o trem, o custo era baixo mais a qualidade do serviço idem. 40 minutos de espera entre as viagens, ou mais. Num vagão sem ar-condicionado (é sabido que a capital baiana é bem quente). Pra não falar que da insegurança, assaltos e apedrejamentos eram frequentes.
No começo dos anos 90 o trem já havia deixado de operar aos domingos justamente porque a população que voltava das praias depredava as composições e estações.
O movimento era muito baixo. Apenas os mais depauperados, que não podiam arcar com o ônibus, iam de trem. Quem podia preferia viajar de busão.
Se o modal sobre trilhos, mesmo sendo quase gratuito e mais rápido que o sobre pneus, não consegue competir com este último algo está errado. É porque o serviço é ruim. No trem suburbano de Salvador era de fato precário.
– 2 LINHAS DE METRÔ, SISTEMA DE ÔNIBUS RENOVADO, ELEVADORES, E BREVE VLT, CORREDORES E ARTICULADOS: O TRANSPORTE EM SALVADOR – Todos os modais, dos anos 70 até hoje e os planos pro futuro:Padronização Integra Salvador, o metrô que foi inaugurado em 2014 e já tem 2 linhas, o trem suburbano que operou por 160 anos, o futuro VLT que entrará em seu lugar;
“O “Brancão” do começo desse novo milênio (um pouco mais pro alto na página, acima da foto da estação do metrô), quando quase todas as viações adotaram uma “padronização informal” embranquecendo a frota – mas nem todas, a BTU foi uma das que resistiu;
O tróleibus que existiu nos anos 60, a viação estatal Transur, as primeiras tentativas de padronização (‘Grande Circular’ e TMS), os articulados – que acabaram mas logo voltarão com o BRT, os elevadores que conectam a Cidade Baixa a Cidade Alta.
Eis a série completa sobre a Bahia:
- ONDE TUDO COMEÇOU: SALVADOR DA BAHIA (Salvador é o sol: com 80 km de praias, o sol nasce e se põe dentro do mar)
Publicado em 22 de Abril de 2021 – aniversário de 521 anos do ‘Descobrimento’ do Brasil, que ocorreu na Bahia. A direita vemos a cena: em 1500 Portugal “descobre” o Brasil, chegando pela Bahia (quadro do museu Palácio da Sé, no Pelourinho-Salvador).
Salvador é peculiar, por muitos motivos: é uma cidade muito antiga, foi a primeira e por enquanto mais longeva capital do Brasil.
Salvador foi fundada em 1549 (5 anos antes de São Paulo e 16 antes do Rio de Janeiro), quase meio século depois do “descobrimento”, pra ser a sede da administração portuguesa no então nascente Brasil.
"Descobrimento" entre aspas, pois aqui já moravam homens antes da chegada das caravelas, portanto já estava descoberto - esse adendo não significa a negação da contribuição lusa e europeia em geral na formação de nossa pátria.
A esq. o 1° bispo do Brasil, instalado em Salvador. Nota: eu não sou católico. Apenas em seus primeiros tempos a história de nosso país esteve muito atrelada a Igreja.
Com 80% de sua população afro-descendente, é a metrópole mais negra do Brasil – e uma das mais negras do mundo fora da África.
Espremida entre a Baía de Todos os Santos e o Oceano Atlântico, tem 80 km de praias. Seu litoral é maior que o do estado do Piauí.
Com uma orla com essa grande extensão e bastante recortada, o Sol nasce e se põe no mar:
Situação creio que única no mundo, ao menos entre as cidades dessa porte.
Salvador é uma península (tem a forma de um dedo, se quiser visualizar assim).
Isso faz dela uma cidade muito densa, com pouca área verde e muita verticalização, inclusive nas áreas mais humildes.
Some-se a isso uma grande desigualdade social, que também ocorre nas outras metrópoles do Brasil e do mundo. Resultando que há favelas em quase todos os bairros, mesmo na Zona Central e nas partes mais abastadas da Orla.
Como as favelas são em morros e com muitos prédios artesanais, em que as lajes vão sendo enchidas e os andares vão subindo sem muita fiscalização, a imagem é bastante impressionante. Andar pela capital baiana, mesmo perto do Centro e das praias, é parecido com andar na periferia de São Paulo. O subúrbio soteropolitano (o gentílico da cidade se alguém não sabe) é bastante denso e verticalizado, repetindo.
Mais parecido com os subúrbios do Sudeste que com os das outras capitais nordestinas.
Salvador é a ligação entre o Sudeste e o Nordeste em termos Espirituais, assim como Curitiba é a ligação entre Sudeste e Sul.
“BEM-VINDO A SALVADOR“: favela em morro ao lado de prédios de padrão mais elevado; eis uma das 1ªs imagens que vi da cidade, ainda dentro do moderníssimo metrô que me levou do aeroporto ao Centro.
……
– É BOM PASSAR UMA TARDE EM ITAPUÃ: É DIA DE DOMINGO EM SÃO SALVADOR (publicado em novembro de 2021)
Comecei meu último dia no Nordeste na Barra, que é o único lugar de Salvador que os brancos são maioria na rua. Portanto uma região de elite.
E, como diz a música, fui “passar a tarde em Itapuã” – uma praia da periferia (esq.), onde exatamente ao inverso 95% das pessoas eram negras ou mulatas.
A trilha sonora só poderia ser o ‘pancadão’ do ‘funk’. Daquele jeito.
Falo do renascimento do Salvador pros turistas: uma cidade acolhedora, limpa e segura.
Por outro lado, as ofertas dos guias e vendedores no Pelourinho extrapola pra insistência desrespeitosa e mesmo pra uma extorsão velada.
Abordo também da pichação em muros, que tem ‘alfabeto’ e regras próprias. Ao lado um exemplo desse estilo inconfundível (no destaque bicicletas que um banco disponibiliza pra aluguel em Ondina).
Além de vários aspectos soteropolitanos: da origem desse gentílico, que remonta ao grego; até o gosto pelo churrasco, compartilhado com o Sul do Brasil.
– SOTEROPOLITANO – Publicado em janeiro de 2017, antes de eu ter ido pessoalmente, portanto:
PUXADINHO NO PRÉDIO, GENTE NAS CAÇAMBAS, GARAGENS NA VIA PÚBLICA:
SALVADOR TAMBÉM É AMÉRICA! E COMO É!!! –
Em algumas fotos puxadas do ‘Google Mapas’, mostramos cenas da periferia da cidade.
Ao lado “puxadinho no prédio“: há um edifício, legalmente construído, com alvará e tudo.
E aí sem alvará alguém sobe mais um andar por conta.
Orla de Salvador. |
Essa é no bairro de Perambués, mas é situação comum por todo subúrbio soteropolitano.
Flagrei também pessoas viajando sem proteção nas carrocerias de caminhões.
Calçadas das vias públicas que foram transformadas em estacionamentos pros prédios em frente, e por aí vai.
América Latina, né? Fazer o que?
Confira série completa sobre o Recife, que conheci na mesma viagem. Eis a matéria de abertura: - A CIDADE SANGUE-QUENTE - "Choque Cultural": um curitibano no Recife. Poucas cidades no mundo são tão diferentes quanto as capitais do PR e PE. Curitiba é fria, o Recife é quente, sangue-quente.
- "FESTA NO MORRO” ??? AH, ESSES ÔNIBUS RECIFENSES…
- TRANSGENIA BUSÓFILA (E AUTOMOTIVA EM GERAL) - Dezenas de curiosidades como essa, veículos - de todos os modais - adaptados prum uso distinto do planejado originalmente;
Tribus em frente ao Estádio Almeidão, Jampa. |