segunda-feira, 11 de maio de 2020

Rio de Janeiro: padronização mais breve da história




ACESSE A "ENCICLOPÉDIA DO TRANSPORTE URBANO BRASILEIRO"


Origem da imagem: internet.

Local:
Rio de Janeiro-RJ.
Viação:
Santa Cruz.
Data:
Década de 10 (século 21, evidente).
Carroceria:
Busscar Pluss.
Motor:
???
Observação:
Rara imagem de Busscar na padronização, pois a montadora faliu antes antes da mudança de pintura, logo os poucos busos da marca que receberam essa caracterização já caminhavam pro meio e fim de sua vida útil.

Rio de Janeiro, década de 10. Busscar Pluss da viação Santa Cruz na pintura padronizada implantada por volta de 2012/12, e abandonada em 2018. 

Enquanto durou, essa padronização de pintura mostrava qual parte da cidade a linha servia. A cidade foi dividida em 4 faixas. A lateral era branca, na frente e atrás a cor era a da região, nesse caso o vermelho. No teto haviam 4 faixinhas pequenas, mostrando todas as regiões (além do vermelho também azul, verde e amarelo).

Nesse ponto a padronização carioca lembrava a do SEI do Recife, pois lá também há faixas verticais mostrando as outras cores do sistema. Apenas em Pernambuco a padronização SEI é por categoria da linha (como em Curitiba, que criou esse modelo) e não por região da cidade.

Ressurgiu a moldura negra ao redor dos vidros, que foi onipresente nos anos 80 e começo dos 90, daí desapareceu por uma década e pouco. Tudo vai e volta!

Como sabem, o Rio foi uma das últimas capitais a padronizar a pintura e a implantar integração via cartão.

Escrevi no texto original (2012): ” Rio de Janeiro com pintura padronizada nos ônibus. Muitos achavam que isso jamais aconteceria, mas aqui está.  “

Infelizmente, os que apostavam que o Rio não conseguiria padronizar seus ônibus estavam certos. 

A padronização veio em 2010. Só que durou pouquíssimo, somente 8 anos, foi a padronização mais breve da história. Já no meio da década os busos com ar-condicionado passaram a vir com pintura livre, com a desculpa que "ônibus com ar é serviço diferenciado e portanto isento de padronização" - só no Rio isso acontece!!! 

Diversas cidades contam com ônibus climatizados, e em nenhuma delas eles estão dispensados da pintura padronizada. Ainda em 2018 o Rio voltou novamente a pintura livre em toda frota, com ou sem ar.

Sendo assim, o Rio foi uma das capitais que mais demorou a padronizar a pintura, o fez mais ou menos na mesma época da padronização de Manaus-AM e Maceió-AL e um pouco antes da padronização de Salvador-BA e da repadronização de Florianópolis-SC. 

Já perto da virada da década de 10 pra de 20, Cuiabá-MT também padronizou a pintura de seus ônibus. 

Na mão contrária, além do Rio Londrina-PR e Feira de Santana-BA da mesma forma passaram por despadronizações. 


No entanto, do meio pro fim dos anos 90 Floripa também despadronizou, tanto a frota municipal quanto inter-municipal. Na capital de SC, entretanto, houve nova padronização em 2014 (apenas nas linhas municipais, as metropolitanas seguem em pintura livre).
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O Rio de Janeiro passou por grande modernização no transporte no começo da década de 10, por conta da Olimpíada de 16 (que foi lá) e da Copa do Mundo de 14 (cuja grande final também foi ali, no Maracanã, excelso palco do futebol mundial).

No começo desse milênio o Rio não tinha sequer articulados, e muitos menos ônibus Expressos (uso o termo curitibano, se referindo a articulados operando em canaletas exclusivas; como dito e é notório atualmente emprega-se a sigla 'BRT') e estações com embarque em nível, nem padronização de pintura.

Tudo isso foi implantado, e como vimos no ano da copa do mundo começaram inclusive a rodar modernos bi-articulados, das marcas Marcopolo e Neobus – esse da imagem é Neobus, e bem, a Neobus é 40% de propriedade da Marcopolo.
………..

Apenas 4 cidades do Brasil contam com bi-articulados atualmente: São Paulo, Curitiba, Campinas-SP e Goiânia. O Rio e Manaus fizeram parte dessa seleta lista em algum momento, mas não mais.

No começo dessa milênio várias capitais importantíssimas do Brasil não tinham sequer articulados, com uma sanfona somente.

Na época, o Rio de JaneiroBelo HorizonteSalvador e Fortaleza-CE (entre outras) não contavam com articulados.



Essa linha (Vilarinho/Cid. Adm.), pelo seu caráter especial, tinha pintura específica, e era de graça pros funcionários públicos que lá trabalham, bastava apresentar a carteira funcional.

Mas pras linhas normais, que eram tarifadas, a capital mineira não tinha nem ônibus articulado, muito menos bi-articulado.

Já Manaus, vejam vocês, tinha tanto articulados quanto bi-articulados.

Faço a ressalva que várias das capitais citadas acima também modernizaram sua rede de transportes. Quando estive em B.H. em 2012 o Move estava na fase final de obras. Agora já está operando, com articulados, corredores exclusivos, e estações modernas com embarque em nível pré-pago. 

A linha Vilarinho/Cid. Adm. (a única que tinha sanfonados quando fui lá) foi incorporada ao Move, e virou alimentadora do mesmo. 


A capital baiana implantou o sistema Integra Salvador, que padronizou a pintura e mudou a entrada pela frente. 

Creio que a cidade até hoje não tenha articulados (eles existiram nos anos 80 e 90, mas nesse milênio só rodaram alguns poucos em testes, inclusive alguns que iam pra Manaus). Em compensação, Salvador já conta com 2 linhas de metrô.

Uma modernização também se deu no Rio. Foram inaugurados os modernos corredores do sistema Trans-Carioca, então agora a Cidade Maravilhosa têm, como a capital mineira, articulados, corredores exclusivos, e estações modernas com embarque em nível pré-pago. 

Os articulados fazem as linhas-tronco, mais longas, e ônibus curtos ou micros os alimentadores locais, com integração tarifária. O metrô também passou por ampliação.

Atualização: no final da década, após a Olimpíada de 2016 que lá foi sediada, o Rio de Janeiro passou a enfrentar sérias dificuldades, e isso repercutiu também no transporte coletivo, tanto que a cidade deixou de contar com bi-articulados. Os articulados continuam operando.

Além disso, o Rio despadronizou a pintura, regrediu a pintura livre nos 'carros' que têm ar-condicionado – isso só acontece no Rio, em todas as demais cidades ter ar-condicionado não é desculpa pra não ter que cumprir a padronização de pintura, digo de novo.

Enfim, é assim que as coisas estão. Até o começo desse milênio o transporte carioca estava em caos. Houveram grandes avanços. Infelizmente a padronização de pintura e os bi-articulados não puderam ser mantidos. 

Mas os articulados, os corredores exclusivos e estações com embarque pré-pago em nível e a ampliação do metrô chegaram pra ficar. Fazendo um balanço, a década de 10 foi positiva.
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Publiquei matéria específica sobre o transporte carioca:

- O TRANSPORTE NO RIO: BONDE ANTIGO, BONDE MODERNO (VLT), AMPLA REDE DE TRENS DE SUBÚRBIO, METRÔ, BARCAS, POUCOS ARTICULADOS E CORREDORES:

Moderno VLT no Centro do Rio de Janeiro, 2020.

TELEFÉRICOS, BI-ARTICULADOS E PADRONIZAÇÃO DE PINTURA VIERAM MAS DURARAM POUCO (outubro de 2021) –

Houve enorme esforço de modernização pra Olimpíada, e alguns dos benefícios se mantiveram:

Ampliação do metrô, VLT, integração no cartão, elevador no Morro Santa Marta, e o próprio BRT, que na orla funciona bem.

Por outro lado o dinheiro acabou, situação já presente após o Rio-16, e que se agravou muito com a epidemia.

Vários setores do transporte coletivo carioca estão a beira do colapso, como alias também outras áreas como saúde, segurança e a própria governabilidade política.

O teleférico nos morros do Alemão e Providência, os bi-articulados e a padronização de pintura já se foram.  A continuidade de todos os demais modais está ameaçada.

Além dessa radiografia do presente, traço uma perspectiva histórica do século 20, com ênfase especial dos anos 70 pra cá.

 

CONFIRA A SÉRIE SOBRE O RIO DE JANEIRO:

RIO 40º: CAPITAL DO MELHOR E DO PIOR DO BRASIL (setembro de 2022)

Abordando a tentativa da burguesia de se isolar num “subúrbio a estadunidense” na Barra da Tijuca – até os anos 90 deu certo, com a melhoria dos transportes que falamos em outro texto não mais.

E também do processo de remoção das favelas da Zona Sul no início do regime militar – igualmente começou com grande fôlego mas por diversos fatores foi interrompido.

Uma das que seriam retiradas seria a do Pavão-Pavãozinho/Cantagalo, na divisa de Copacabana e Ipanema. Como você vê ao lado, não deu certo.

Conto a origem do nome de algumas favelas, inclusive a mais antiga do Brasil, o Morro da Providência no Centro, e mais o Chapéu-Mangueira no Leme/Copacabana, quase a beira-mar na Zona Sul.

Falo ainda do “TeteCá”, a “língua” inventada no RJ que inverte a ordem das sílabas, da pichação de muros, e mais.

 

021: A CIDADE É MARAVILHOSA MAS . . .  SE LIGA MEU IRMÃO!!!

Que a situação está complicada e de forma multi-dimensional não é segredo pra ninguém. Não o menor dos problemas é a violência urbana, evidente. Faço uma breve retrospectiva histórica mostrando as origens dessa triste situação.

 
Uma cidade ocupada militarmente, foi o que vi em setembro/2020. A impressão é que havia desembarcado em Bagdá/Iraque ou Cabul/Afeganistão. Relato com muitas fotos de uma realidade impressionante.


Outras postagens sobre o mesmo tema:

- CAPELINHA: RIO, SP, B.H., BELÉM E POA; PLACA NO ALTO: ESTAMOS NO SUDESTE

Quem tem perto de 40 (escrevo em 2021) vai lembrar quem em muitas cidades antigamente os busos tinham ‘capelinhas’ – letreiro menor no teto pro nº da linha. Muito comum no Rio e SP, sendo que no rio quase oni-presente até os anos 80 e começo dos 90.

rj-ctc-metro
CTC-RJ, anos 80 - com capelinha.

Mostra o Sudeste e mais Belém-PA, Porto Alegre-RS e até Brasília-DF (onde houve esse apetrecho em maior escala), além de dar um panorama global.

Falo também de um costume, nos anos 70 e 80 típico do Sudeste Brasileiro e também presente no Chile e Argentina: pôr a chapa na grade de respiração do motor, e não no espaço próprio pra isso no para-choques.

- BUSSCAR, AQUI JAZ; UMA HOMENAGEM PÓSTUMA

A história da montadora, que no auge foi uma potência no Brasil. Na cidade de Joinville, a maior do interior de Santa Catarina e onde a Busscar é sediada, por décadas a frota foi 100% dessa marca, produzida ali mesmo. E o sucesso se repetia pelo mundo - na Colômbia por exemplo ela é um ícone

Sua queda, e a luta pra se re-erguer, agora ficada somente no modal rodoviárIo:

Como sabem, a montadora começou a fraquejar a produção em 2010, e em 2012 teve falência decretada pela justiça. Houveram 3 leilões fracassados da massa falida, até que em 2018 a Caio comprou e reabriu a Busscar. Mas agora ela não produz mais ônibus urbanos.

 

- DEUS É UM CARA GOZADOR E ADORA BRINCADEIRAS (mostro situações irônicas nos ônibus, e no caso do Rio abordo o sistema de Expressos e alimentadores do Trans-Carioca; também flagrei e relato curiosidades em Atibaia-SP, na Argentina e na Paraíba)
  

- DO 'FAIXA AZUL' AO FAIXA PRETA': OS VOVOS DO SÉCULO 20 (Centrado mais nos caminhões, mas falamos também dos ônibus, um pouco do Brasil - ali está postada a foto que viram no topo da página - e especialmente do Peru)


- "SÉCULO 20: 'AZULÃO EM CURITIBA SÓ NO METROPOLITANO; E "VOLVO ERA VOLVO..." 
Aqui o foco é o transporte coletivo; abordo também o fato que Curitiba só foi ter ônibus azuis municipais em 2011, antes não.
E os azuis são bi-articulados  - o que nos leva as seguintes matérias:


Aqui retrato a história do modal ‘Expresso’, desde sua criação em 1974Você sabe quantas cores o Expresso já teve em CuritibaForam 4, começou vermelho, já tentaram fazer Expressos laranjascinzas e azuismas sempre voltam a ser vermelhos.

(Radiografia completa, desde a implantação dos 'Expressos' nos anos 70, o começo dos articulados em 1981, massificação dos articulados em 1987/88, e chegada dos bi-articulados nos anos 90)

ANTES & DEPOIS: FROTA PÚBLICA DE CURITIBA: Antes dos bi-articulados. Mas retrata o momento que Curitiba passou de alguns poucos articulados, perto de ou mesmo menos de 10 (com uma só sanfona) pra várias dezenas deles. Entre 1987 e 88, a prefeitura encomendou 88 articulados, que vieram pintados de laranja. O busólogo curitibano Osvaldo Teodoro Born fez um excelente trabalho de mostrar cada um deles, em sua página ‘A Folha do Omnibus‘. Usei seu trabalho como base pra fazer uma matéria em minha página, acrescentando mais fotos e informações. 

Sobre São Paulo:

-  SP: A REVOLUÇÃO NO TRANSPORTE  - Nessa aqui falamos também de Campinas, e seus bi-articuladosEvidente que as coisas estão longe de serem perfeitas. Mas comparando ao que era até os anos 90 o transporte público em SP melhorou muitoSomando as redes de metrô e trem suburbano - e precisa somar, pois você acessa ambas pagando uma só passagem - a rede sobre trilhos na Grande SP já iguala o metrô de Nova Iorque/EUA. Os ônibus paulistanos igualmente mudaram da água pro vinho, mesmo que ainda haja espaço pra melhorar bem mais 

Bi-articulado Caio no Brooklin, SP, 2014.
 
Essa focando mais especificamente nos ônibus como o nome indica.
 
Abordando a pintura livre (até 1978).
 
E também as padronizações do transporte paulistano:
 
'Saia-&-Blusa' (78-92, como dito), 'Municipalizado' (1992-2003) e 'Inter-Ligado' (2003-presente)




O melhor e o pior do Brasil, a poucas quadras de distância um do outro. O Centrãoque está com muitos moradores de rua e diversos outros problemas típicos de uma metrópole desse porte;

E ali do ladinho a “Cidade Verde”, os Jardins, a Paulista, Higienópolis, e o começo das Zonas Oeste e Sul, região que ao lado da Orla do Rio é onde mais concentra elite e alta burguesia no Brasil. Além disso, um dos pontos positivos é exatamente a melhora do transporte, fotografei vários bi-articulados paulistanos em ação.
 

    

Como a Busscar é de Joinville-SC, emendo com as reportagens sobre essa cidade, onde também falamos da montadora. 



 
 "Deus proverá"


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