quinta-feira, 12 de setembro de 2019

ônibus como "Obra-de-Arte": as viações indianas de Durbã, África do Sul



Autoria própria. Imagens de livre circulação, desde que os créditos sejam mantidos
Local:
Durbã, África do Sul.
Data:
04/2017
Viação:
???
Carroceria:
???
Motor:
???
Observações:
Tomada no Centro, próxima a Estação de Trens de Durbã.

Durbã, África do Sul, abril de 2017. Ônibus urbano exibe um mural religioso na traseira. Trata-se de uma obra de arte (abaixo, no fim da matéria, mostro em escala ampliada).

Essa não é a pintura da viação, e portanto se assim fosse o mesmo desenho viria estampado em toda frota. Nada disso. É a decoração personalizada desse veículo específico, nele e somente nele existe essa pintura.

Ou seja, o veículo é uma tela pra uma expressão artística. Essa é uma tradição em Durbã.

Pra quem não teve a oportunidade de ir lá nem estudou a fundo sua história, explico. Durbã é a maior cidade indiana fora da Índia.

Dos 3,5 milhões de habitantes da Grande Durbã, quase 1 milhão (pouco mais de 900 mil sendo exato) têm ascendência indiana.

Andando por Durbã, você se depara com inúmeros templos hindus, de culto a Krishna, Shiva, Brahma, Vishnu, Lakshimi, Shakti, Parvati, Sarasvati, Kali e outros Deuses e Deusas do Panteão Indiano, que é extenso.

O transporte em Durbã ainda não foi modernizado. Todas as grande metrópoles sul-africanas têm extensa rede de trens suburbanos, herança ainda da colonização britânica.

Mas os trens suburbanos sul-africanos - chamados 'MetroRail' - são extremamente perigosos. Assaltos, brigas, esfaqueamentos e mesmo latrocínios (matar pra roubar) são ocorrências comuns, infelizmente.

Assim o 'MetroRail' só é utilizado pelos mais pobres entre os mais pobres, aqueles que não podem mesmo arcar com outro tipo de condução.

O meio mais comum de transporte na África do Sul são as vans, quase todas são da marca Toyota e brancas, mas existem outras cores e modelos.

Essas são operadas pelos próprios negros. Ocorreu uma guerra pra que eles pudessem levar suas vans ao Centro das cidades e aos bairros de classe média, aonde estão os empregos.


Os negros venceram essa guerra, e hoje as vans ou 'táxis' que eles operam hoje chegam a qualquer bairro de todas as cidades sul-africanas. E esse é o meio preferido da maioria das pessoas pra se locomover.

Depois há os ônibus normais. A Cidade do Cabo tem uma rede de ônibus de 1º mundo, chamado 'Minha Cidade', com terminais, corredores exclusivos, modernas estações com embarque pré-pago e elevado, onde articulados fazem as linhas trocais e micros ou ônibus de tamanho normal as linhas alimentadoras.

Em Pretória também há uma rede similar que atende satisfatoriamente a cidade, mas vale lembrar que Pretória é bem menor comparada com Cabo, Joanesburgo e Durbã.

Em Joanesburgo igualmente há um moderno sistema de ônibus, chamada 'Rea Vaya' – 'Estamos em Movimento' na gíria local. Mas a rede é muito pequena, pouquíssimas linhas, absolutamente insuficiente pra uma metrópole que já congrega 7 e segundo algumas estimativas até 10 milhões de habitantes.

E por fim Joanesburgo e Pretória contam com o moderníssimo Gautrem (o nome é um trocadilho com 'Gauteng', o estado que as cidades se localizam), mais uma vez de primeiríssimo mundo, orgulho sul-africano.

O Gautrem tem sua própria rede de alimentadores de ônibus, e você pode usar só um dos modais ou combiná-los, nesse último caso com atrativo desconto.

A questão é que o Gautrem também tem uma rede pequena. É um luxo, mas pouca gente pode usá-lo, porque ele não chega aos bairros periféricos da metrópole, se circunscreve a parte de classe média e média-alta da cidade.

E aqui chegamos a Durbã. Tracei um paralelo pra vocês entenderem. Cid. do Cabo e Pretória têm modernas redes de ônibus que atingem a cidade inteira, Pretória tem também o Gautrem.

Joanesburgo tem o Gautrem e o Rea Vaya, ambos ainda de redes pequenas (o Rea Vaya está em expansão).

Mas Durbã não tem nada disso. Tem o 'MetroRail' e as vans, que as outras também têm, e que funcionam precariamente, só 'dão pro gasto', isso não apenas em Durbã mas todo país.

A rede de ônibus em Durbã ainda não foi modernizada. Não há articulados, corredores exclusivos, terminais, estações com embarque pré-pago e elevado, nada disso.

Digo, há uma linha mais moderna, chamada 'MoveGente' ('PeopleMover' no original). Ainda não tem articulado, terminal, corredor nem estação.

Pelo menos o 'MoveGente' é feita por ônibus novos, com ar-condicionado e tem integração temporal. Só que são pouquíssimas linhas, apenas ligando o Centro a orla. Novamente, pra poucos.

O grosso do transporte de ônibus em Durbã é feita por viações independentes - boa parte delas de propriedade de indianos.

Cada uma delas tem uma frota de 5 a 20 veículos, e opera de uma a 3 ou 4 linhas. São veículos velhos, não há integração, corredor, terminal, estação, e muito menos ar-condicionado.

Em compensação, são ricamente decorados, especialmente os de donos descendentes de indianos. Olhar esses busões em Durbã é um espetáculo a parte. Já andar neles não posso garantir. Quem tiver ouvidos que ouça….
..........

Matérias sobre o tema (após as ligações há mais uma imagem, alias destaquei mais uma pessoa levando volumes na cabeça sem segurar, tradição africana e do Caribe com seus afro-descendentes):

DA 'GUERRA DOS TÁXIS' AO GAUTREM: O TRANSPORTE NA ÁFRICA DO SUL, DA BARBÁRIE AO MODERNÍSSIMO (julho.17) -

Falamos das “Guerras do Transporte” – não é figura de linguagem, o sangue correu e ainda corre.

E também do que funciona exemplarmente, como os ônibus do Cabo e o Gautrem (direita), que liga justamente Joanesburgo e Pretória.

- ÁFRICA DO SUL, O MUNDO NUM SÓ PAÍS (maio.17, abertura da série, falo da triste era do 'apartheid', da luta que foi pra derrubar o regime racista);

Joanesburgo, a “Metrópole Global Africana” (abril.18): Gauteng, como dito, é o menor estado (província) da África do Sul. Mas seu centro populacional, econômico e político.

Ali está Joanesburgo, sua maior metrópole, centro financeiro e político do país. Um pouco mais ao norte fica Pretória, a capital administrativa nacional, que é praticamente um subúrbio do Joanesburgo.

Encanto Multi-Dimensional: a Cidade do Cabo (e do Vinho), um Chacra da Terra (fevereiro.18): Uma radiografia completa da mais bela cidade da África do Sul, e uma das mais belas do mundo.

- América na África (Índia na África também) – é Durbã, de Porto Natal a eThekwini (setembro.18):

Se a República Dominicana é a 'África na América', Durbã, inversamente, é a ‘América na África’.

Pois se parece mais com as cidades latino-americanas (tem favelas em morros), enquanto o resto da África do Sul segue o modelo anglo-ianque  de urbanização.

Ademais, Durbã é a maior diáspora indiana a nível global, a “Índia na África”.

Khayelitsha É África: só eu e Deus na "Zona de Perigo" (setembro.17):

Minhas voltas (sozinho, de transporte público, sem celular, guia ou qualquer proteção exceto a Divina) pelas periferias de Joanesburgo, Cidade do Cabo e Durbã.

Todas essas cidades têm problemas seríssimos de segurança pública, como não é segredo pra ninguém.

Em Durbã andei até num camburão policial (ao lado), os policiais me deram uma "carona" pra me tirar de uma dessas periferias.

A Riviera do Cabo (maio.17): Ensaio fotográfico mostrando a orla da Zona Sul da Cidade do Cabo. Que, repito, é uma das cidades mais lindas do mundo. E esse é seu pedaço mais encantador. Definitivamente “palavras não são necessárias“.


https://omensageiro77.wordpress.com/2018/09/10/america-na-africa-india-na-africa-tambem-e-durba-de-porto-natal-a-ethekwini/


Deus proverá”

Nenhum comentário:

Postar um comentário